A primeira Copa do Brasil a gente nunca esquece

Meu moleque mais novo tem 9 anos, jamais tinha participado de uma comemoração de título do nosso time do coração.

Eram quase 11 anos sem um título de expressão (Paulistinha e Copinha são importantes, mas nem tanto para um gigante como o São Paulo). Por muitas vezes a relação pai e filho são paulinos ficou muito estremecida.

A tensão era tanta que me tranquei no quarto sozinho para assistir, já sabendo que seria muito difícil, não tinha como ser sociável numa situação como essa.

Ao contrário do que a maioria imaginava, após o que aconteceu no Maracanã, eu tinha convicção que seria mais difícil ainda após aquela maiúscula vitória. Em primeiro lugar, porque o Tricolor passou da condição de azarão para favorito, quase com a obrigação de ser campeão. E ainda, o fator mais agravante, eu sabia que o lado psicológico dos fatídicos 11 anos pesariam mais de 11 toneladas nas costas de cada jogador.

O 1.º tempo foi exatamente como eu esperava. De um lado, o São Paulo organizado defensivamente, porém, com tanto medo de ser campeão que a bola "queimava" nos pés dos jogadores (menos do Lucas), que se restringiam a se livrar dela o mais rápido possível. Do outro lado, o Flamengo sem nenhuma organização, um amontoado de jogadores, entretanto, quase todos com qualidade técnica para poder decidir o título a qualquer momento. Gérson, motivado com a convocação, jogava demais e por muito pouco não estragou a festa dos 63 mil afortunados que conseguiram comprar o caríssimo ingresso.

O gol do Flamengo era uma questão de tempo e, aos 43', o predestinado Bruno Henrique marcou, numa sobra após a falha de marcação do menino Caio Paulista. Era tudo o que eu mais temia, sofrer um gol no final do 1.º tempo e ir para o intervalo com o psicológico abalado. Pane geral por alguns minutos e, por muito pouco, não sofremos o segundo gol, o que decretaria mais uma tragédia em pleno Morumbi.

Todavia, dessa vez, os deuses do futebol estavam do lado Tricolor e, aos 49', um chute improvável e espetacular do criticado menino de Cotia, Rodrigo Nestor, tirou do peito um grito de libertação de quase 11 anos de vexames, chacotas, tragédias e vergonhas. Abri a porta do quarto e meu moleque pulou em meus braços em um abraço tão efusivo, que nunca mais esquecerei e creio que ele também não. Estava selada a paz numa sofrida família tricolor, o Rafael por muito pouco não mudou de time, de tanto ser zoado pelos amigos na escola e por tantas vezes que choramos juntos as doloridas derrotas dos últimos anos. Nesse momento, o choro foi de alegria e tive a plena certeza de que o São Paulo jamais tomaria o 2.º gol, estava escrito, a primeira Copa do Brasil da nossa história estava garantida.

O 2.º tempo foi sofrido, demorou quase 11 anos para terminar, o Flamengo teve algumas chances de desempatar, entretanto, o São Paulo e Dorival Junior souberam fazer exatamente o que prega aquela velha máxima do futebol: "final não se joga, se ganha".

E dessa forma, posso assegurar à todos os amigos do Quatarama, não existe mais nenhum título que um time brasileiro possa alcançar e que eu já não tenha comemorado. Ganhei fôlego e energia para continuar escrevendo e fazendo nossos Desafios aqui por mais uns 30 anos.

Vamo São Paulo!